Uma das grandes vantagens do videomonitoramento para o registro de meteoros é a vigilância constante do céu. Além de uma ótima astrometria que pode ser feita para a determinação mais precisa de trajetória e velocidade dos meteoros, acredito que o intenso monitoramento do céu noturno, promovido por câmeras, possibilita o surgimento de acontecimentos importantes.
Este post trata justamente disso: um acontecimento importante.
Por vezes falamos dos níveis de importância e qualidade de dados que podem ser obtidos por uma estação de monitoramento de meteoros ao trabalhar de forma isolada ou de forma pareada. E esta percepção de qualidade é um dos pilares principais do trabalho da BRAMON.
Nós temos uma grande quantidade de estações pelo país. Hoje são mais de 110. Mas quando observamos as dimensões continentais do Brasil, este número se torna reduzido em face a grande área de cobertura que precisamos abarcar ainda. Isso gera, pontos onde temos alta densidade desta cobertura e regiões com poucas estações. O estado que possui maior quantidade de câmeras ligada à BRAMON é São Paulo (16 estações) e lá, a proporção de meteoros pareados é grande.
Mas para dar a dimensão do trabalho em rede, vale muito a pena mostrar realizações e soluções que seriam pouco comuns.
No último dia 14 de fevereiro, às 07h01min19.9s UTC, duas estações registraram o mesmo meteoro. Dentre as mais de 10.000 órbitas que temos seria algo comum, mas o mais interessante é que uma das estações está localizada em Taquara-RS e a outra em Sumaré-SP, distantes 837km entre si.
Imagem do Meteoro SPO¹ registrado pela Câmera 6 da Estação CFJ, de Carlos Fernando Jung (Taquara-RS)
Imagem do meteoro SPO² registrado pela estação ADJ1 de Alfredo Dal’Ava Jr (Sumaré – SP)
Projeção mostrando a posição de cada estação e a trajetória do meteoro SPO³.
Projeção da órbita do meteoro registrado pelas estação CFJ6 e ADJ1.
Tanto Alfredo Jr. quanto Carlos Jung estão de parabéns pelo registro. O feito pode até residir na distância do pareamento. Mas o aspecto importante aqui, é a recompensa por manter as estações ativas, operando e suficientemente ajustadas para termos qualidade nos dados obtidos.
A BRAMON incentiva o constante aperfeiçoamento de seus integrantes. Seja por ação coletiva ou por incentivo à pesquisa individual. Acreditamos no trabalho colaborativo e temos, ao longo destes quatro anos, inúmeros exemplos de produções científicas de qualidade internacional, feita por cidadãos de diversos níveis de foco e interesse astronômico. Mantemos o conceito de convergência e difusão de conhecimentos na área de meteoros.
A BRAMON é uma das maiores redes de monitoramento de meteoros do mundo, seja em área de cobertura, número de estações ou descobertas de chuvas de meteoros. A BRAMON tem o Brasil no nome. Junte-se a nós.
¹ A análise do meteoro feita por Carlos Fernando Jung apontou que o mesmo seria classificado como esporádico.
² A análise do meteoro feita por Alfredo Dal’Ava apontou que o mesmo seria classificado como esporádico.
³ A análise do pareamento feita pela combinação dos dados dos dois registros manteve a classificação do meteoro como esporádico.
Imagens gentilmente cedidas por Alfredo Dal’Ava e Carlos Jung. Texto e Edição: Lauriston Trindade*.
*Lauriston Trindade é graduando em Física pela Universidade Estadual do Ceará. Integrante da BRAMON desde 2015. É co-descobridor de chuvas de meteoros. Membro da IMO (International Meteor Organization).