Personagens da Ciência de Meteoros – Parte V

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Quando Halley contestou a ideia dos fireballs como sendo apenas produto de vapores em combustão, ele iniciou estudos para avaliar como tais vapores poderiam chegar ao topo da atmosfera.

Paralelamente a isso, ele desenvolveu, secretamente, a teoria de que os meteoros poderiam ter origem extraterrestre. E que o brilho poderia ser por conta do contato de certos átomos com a atmosfera. Seu argumento inicial para a inconsistência do modelo aristotélico seria a dificuldade que os vapores teriam para se elevar tanto na atmosfera. Estranhamente, um ano depois, Halley começou a reativar a ideia de que os meteoros tinham origem nos vapores.

Em 6 de março de 1715, a Europa foi envolvida num poderoso evento de aurora boreal. (Este evento marcou o final do Mínimo de Maunder). Halley escreveu sobre as auroras para a Royal Society.

Halley considerou a hipótese do vapor em ignição para as aurora, mas depois rejeitou. Um dos motivos para as dúvidas era que as auroras eram sempre vistas na direção do horizonte norte e nunca do horizonte sul. E causava descrença imaginar tão grande quantidade de vapor inflamando. Halley não cita a dificuldade do movimento ascendente do vapor de enxofre.

Foram conduzidas pesquisas sobre a queima de pólvora no vácuo. Francis Hauksbee teceu um grande trabalho sobre a queima da pólvora e do “fósforo mercurial”. Pesquisa feita entre 1704 e 1707. Foram vários trabalhos apresentados à Royal Society.

John Whiteside conduziu vários experimentos sobre a influência do ar na queima da pólvora e do fósforo. Halley ficou inclinado a acreditar que os meteoros realmente teriam sua origem nos vapores queimando na alta atmosfera.

Já em 1719, em seu terceiro trabalho sobre os fenômenos meteoríticos, Halley ficou muito focado em relatar um grande fireball em 19 de março de 1718. Apoiado em muitos relatos compilados por John Whiteside em Oxford. Halley calculou que o fireball devia estar a 80 km de altitude e devia se mover a mais de 450km/min (algo impressionante para a época). Mas Halley havia revertido todo seu pensamento para a hipótese dos vapores inflamáveis.

No corpo do trabalho de 1719, Halley não sabe justificar como os vapores subiriam até o topo da atmosfera de forma tão coordenada e sem condensar. Chegando mesmo a usar termos como “seguem fortuitamente juntos”. Era um processo desconhecido, mas inevitável, ainda escrevia ele.

Edmond Halley

Os meteoros pós Halley

Nos quarenta anos que antecederam os trabalhos de Halley, somente 3 cartas foram publicadas na Royal Society com temas de fireballs. Nos quarenta anos seguintes aos trabalhos de Halley, foram 15 publicações referentes à fireballs.

Infelizmente tais publicações nunca ofereciam muitas informações sobre o fenômeno dos meteoros em si. Ficavam detidas na descrição climatológica do momento do avistamento dos meteoros.

Uma carta de 1727, escrita por George Lynn estava referenciada com o trabalho Halley, no tocante à necessidade de ter-se pelo menos dois pontos de vista de um esmo meteoro para a determinação da altitude e longitude do fenômeno. Lynn foi além. Escreveu que a técnica de triangulação poderia ser utilizada para todos os meteoros, não só para os fireballs. Até porque os meteoros mais tênues eram bem mais numerosos e isso faria com que acumulassem dados bem mais rapidamente.

A carta de Lynn deixava claro que ele não estava bem certo sobre a altura que devia ocorrer os meteoros. Ele sugeria ago como 40-50km de altitude. Ele acreditava que deveriam estar mais elevados que os topos das nuvens.

Lynn tem importância na história porque reforça a ideia de que os meteoros são muito recorrentes. Em noites claras e logo depois de tempestades. Estudos mais aprofundados sobre as camadas atmosféricas onde ocorriam os meteoros somente foram conduzidas 71 anos mais tarde.

 

Uma origem mais nobre

Depois que Halley investigou o fireball de 1718, o meteoro notável seguinte veio em 1758, John Pringle (1707 -1782) compilou as várias observações para a Royal Society.

John Pringle (Mangus Manske, 2004)

Pringle listou oito pontos de discordância com a hipótese dos vapores inflamáveis. Questionando a reprodutividade dos experimentos de Halley, frisava a falta de lógica de o vapor não condensava na fria atmosfera superior. OUtra questão era: por que a queima ocorria em massas alinhadas de vapor e não surgiam em formas irregulares ou de globos? Pringle também questionava o mecanismo de ignição do vapor. Porque muitos à época tratavam os meteoros como relâmpagos vistos a muito grande distância.

Pringle retomava que o melhor modelo era o apresentado por Halley em seu trabalho de 1714. Que era justamente o modelo da origem extraterrestre. Ele sustentava que o Criador deveria ter um propósito ao criar os meteoros . Que os mesmos deveriam fornecer algum material importante à vida na Terra. Ou que tivessem ação de purgar más substâncias evitando que se acumulassem e tornassem a Terra inabitada.

Pringle comenta que os fireballs deveriam ter origem extraterrestre e vai um pouco além. Diz que eles deveriam ter órbitas definidas (embora não houvesse necessidade de serem centradas no Sol).

Este foi o primeiro momento em que se sugeriu que o brilho dos meteoros era proveniente da interação física de corpos extraterrestre com a atmosfera da Terra.

Personagens da Ciência de Meteoros – Parte IV

 

Imagens sob licença CC 3.0. Pesquisa, tradução e Edição: Lauriston Trindade*. Revisão: Wendel Gonçalves.

*Lauriston Trindade é graduando em Física pela Universidade Estadual do Ceará. Integrante da BRAMON desde 2015. Co-descobridor de chuvas de meteoros. Membro da International Meteor Organization (IMO).

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