Desde a noite da última terça, 20 de fevereiro, este é o assunto mais comentado em nossas redes sociais: O Meteoro da Bahia. Aqueles que estiveram fora da Terra nos últimos dias e não sabem do que estamos falando, podem assistir o vídeo abaixo com uma compilação de imagens do meteoro.
Mas isso tem gerado muitas dúvidas e foi pensando nisso que resolvemos esclarecer as dúvidas mais comuns sobre o meteoro da Bahia.
1 – Foi mesmo um meteoro?
Sim. Não há a menor dúvida que se trata de um meteoro. Não caiu nenhum avião, não houve reentrada de lixo espacial, não era Goku e nem Jesus voltando. Era apenas um meteoro, um fenômeno luminoso provocado pela passagem de um fragmento de rocha espacial pela atmosfera da Terra.
2 – Mas não poderia ter sido reentrada de lixo espacial?
Neste caso, não. Todos os objetos postos em órbita pelos diversos programas espaciais de todo o mundo são monitorados diariamente por observadores internacionais e independentes. Nós mesmos da BRAMON, que não somos ligados a nenhuma agência espacial, flagramos todas as noites a passagem de satélites e lixo espacial em nossas câmeras. Essa comunidade internacional constantemente lança alertas de reentradas de lixo espacial, e para a noite do último dia 20, não havia nenhum alerta de reentrada.
Além disso, já calculamos a velocidade e o ângulo de entrada do meteoro, e eles são totalmente incompatíveis com uma reentrada de algum objeto em órbita.
3 – Mas e o corpo do foguete russo que cairia no Brasil?
O objeto SL-4 RB, que era o corpo do foguete russo Progress que levou mantimentos para a ISS esse mês, reentrou na atmosfera na sexta feira, dia 16, sobre o Canadá, 20 minutos antes de passar pelo Brasil conforme mostra a imagem abaixo.
Existia a possibilidade que essa reentrada ocorresse sobre o Brasil, mas isso não era fato. Ainda não é possível calcular com precisão o local de reentrada de um objeto não-controlado em órbita. No caso desse objeto, a previsão de reentrada era para as 22:06 UTC com margem de erro era de 2 horas. A diferença de 26 minutos não foi uma falha. Estava dentro da margem de erro prevista.
4 – Vi em numa reportagem que a BRAMON afirmou que era o foguete russo. É verdade?
Não. Em nenhum momento dissemos isso. E nem poderíamos já que já havíamos informado o local exato da reentrada em nosso site desde o dia 17.
5 – E o objeto encontrado em Camaçari após a passagem do meteoro?
É normal depois de um evento grandioso como esse, que surjam histórias e objetos falsamente associados ao meteoro. Isso ocorre sempre e no caso da Bahia, não está sendo diferente. Especificamente, a respeito do objeto encontrado pelo Sr. Edinei da Silva Almeida, de Monte Gordo, Distrito de Camaçari, podemos afirmar categoricamente que aquele objeto não tem nenhuma associação com o meteoro e que aquilo não se trata de lixo espacial.
Quem ainda não conhece essa história, pode vê-la aqui.
Na história, o Sr Edinei fala de uma explosão que ocorreu no momento em que ele ateava fogo em um material no terreno que ele estava limpando, e que depois disso, encontrou o artefato e uma pequena cratera no terreno:
Entretanto, apesar de ser comum ouvir barulho de explosão após a passagem de um grande meteoro, isso não ocorre em reentradas de lixo espacial. Isso porque, reentradas ocorrem em ângulos muito rasos, então, o objeto vai sendo consumido lentamente pela atmosfera. Além disso, materiais pesados como o ferro (que parece constituir o artefato) são evitados na construção de foguetes e satélites.
Por fim, apesar de não sermos especialistas em explosões, nos parece muito mais sensato relacionar essa explosão ao fogo que ele havia provocado no terreno. O objeto parece que originalmente era cilíndrico e que foi explodido por uma força interna. Então, acreditamos que seria mais fácil acreditar que isso fosse algum artefato balístico que estava enterrado e explodiu com calor do fogo.
É bom ressaltar que não temos conhecimento suficiente para afirmar o que isso realmente era. Mas podemos afirmar com certeza que ele não tinha qualquer relação com o meteoro e que ele não veio do espaço.
6 – E agora? Ainda ficou alguma dúvida a respeito desse assunto?
Felizmente, sempre restam dúvidas. A ciência vive disso. Ainda estamos trabalhando no refinamento da trajetória com o objetivo de conhecer mais sobre esse objeto. E o Departamento de Geologia da UFBA, através da Dr. Débora Rios, já está analisando o artefato encontrado pelo Sr. Edinei para tentar determinar a natureza do objeto. Certamente a explicação para ele deve sair em breve. Mas de maneira geral, o evento ocorrido no leste baiano, na noite de 20 de fevereiro, já está muito bem explicado.