Bramon na Folha de São Paulo

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bramonO hemisfério Norte está ligadão hoje à noite para o que pode ser uma espetacular (e nova) chuva de meteoros. Nós aqui no Patropi não teremos grande chance de observar diretamente, mas um grupo de astrônomos amadores brasileiros se recusa a desistir. Eles vão tentar ver a colisão dos meteoroides na Lua!

É a tal história: pau que bate em Chico, bate em Francisco. Se a Terra atravessa uma região de poeira cósmica no espaço, é grande a chance de a Lua, nossa eterna companheira, também fazer a mesma coisa.

No caso em questão, nosso planeta e seu satélite natural atravessarão, na madrugada de hoje para amanhã, a trajetória do cometa 209P/Linear, descoberto em 2004. Ao fazerem isso, partículas que tenham sido deixadas pelo astro quando ele passou por aqui entrarão em alta velocidade na atmosfera terrestre, produzindo as famosas estrelas cadentes. (Quem acompanha o Mensageiro Sideral teve a chance de testemunhar um fenômeno desses no começo do mês, ocasionado por poeira deixada pelo cometa Halley em sua última passagem.)

Os meteoros devem partir de uma região na constelação de Camelopardis, o que é bem frustrante para nós no hemisfério Sul. Essa área do céu fica bem pertinho do polo Norte celeste, o que implica dizer que é invisível daqui das nossas bandas austrais.

Não se dando por vencidos, dois astrônomos amadores ligados à Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros (Bramon) vão tentar observar o fenômeno. Em vez de buscar as estrelas cadentes na atmosfera terrestre, eles vão olhar para a Lua. A intrépida tentativa será feita por Cristóvão Jacques, um dos responsáveis pela descoberta do primeiro e do segundo cometas 100% nacionais, em Minas Gerais, e Marcelo Domingues, no Distrito Federal.

Eles apontarão câmeras sensíveis para o disco lunar, na esperança de detectar flashes resultantes do impacto de partículas com nosso satélite natural. A fase minguante é propícia para essa estratégia de observação, pois boa parte do disco lunar estará às sombras, facilitando a identificação de colisões.

Ninguém sabe quais exatamente são os tamanhos dos pedaços do 209P/Linear que estão por aí, mas a ausência de atmosfera na Lua amplifica o potencial de detecção produzido por uma colisão. Segundo o pessoal da Bramon, uma pedrinha de 5 quilos pode abrir uma cratera de quase 10 metros na superfície lunar. Aqui na Terra, se uma pedra do mesmo tamanho adentra a atmosfera, ela tende a queimar por inteiro, sem causar estragos.

“Os resultados de eventuais capturas estarão à disposição da comunidade científica brasileira e constituirão o início de um novo campo de pesquisas em astronomia no nosso país”, afirmam Carlos Bella e Gabriel Gonçalves, membros da Bramon.

Tanto em seu trabalho usual como nessa ocasião especial, a equipe da Bramon tem trabalhado duro para monitorar o ambiente espacial na região da órbita da Terra. Trata-se de uma iniciativa importante para a caracterização de quantos pedregulhos espaciais costumam adentrar a atmosfera do nosso planeta e, talvez mais importante, de qual é o nível de risco para nossa infraestrutura em órbita — satélites, naves e estações espaciais. Isso sem falar no que costumo chamar de “cool factor”: contar estrelas cadentes é sempre muito legal!

Fonte: Mensageiro Sideral

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