No meio da madrugada do último dia 6, um brilhante meteoro entrou na atmosfera da Terra. O mesmo foi registrado simultaneamente por duas estação da BRAMON: CSP – Carlos di Pietro – São Paulo – SP e RCP2 – Renato Poltronieri – Nhandeara – SP. Ao ser registrado por duas estações, foi possível aplicar a técnica de triangulação e, consequentemente, determinar com mais refinamento, a trajetória do meteoro. Este é o chamado pareamento, sendo muito útil para dirimir dúvidas do radiante de origem.
Imagem obtida pela estação RCP2 mostra o meteoro no canto inferior esquerdo.
Imagem obtida pela estação CSP mostra o meteoro deslocando-se praticamente horizontal ao campo de visão da câmera.
As análises individuais das estações já haviam apontado a possibilidade do meteoro integrar a família JCT (July Cetids), que é uma das chuvas de meteoros descobertas pela BRAMON em 2017. Os dados orbitais médios da JCT são: a = 3,86; e = 0,73; q = 0,99; Peri = 20,0º; Nodo Ascendente = 290,0º; Inclinaçao = 153,7º e Velocidade Geocêntrica de 66,2Km/s. Dados complementares da Chuva JCT podem ser vistos diretamente no site do Meteor Data Center.
Quando as trajetórias individuais foram estendidas, o resultado ficou como se segue:
Imagem que mostra o prolongamento dos registros individuais das trajetórias. As duas apontam o mesmo radiante: JCT.
Imagem que mostra a órbita unificada que o meteoro possuía antes de encontrar a Terra. O Sol pode ser visto em amarelo, ao centro.
A órbita média dos meteoros que compõem a chuva JCT mostra inclinação com características cometárias.
Os dados técnicos do Fireball de São Paulo (análises por Carlos Di Pietro e Gabriel Gonçalves)
O meteoro entrou na atmosfera em 06/07/2017 às 05h32min55s. Brilhou com magnitude -3,0 por 0,4s e possuía velocidade média estimada em 66,4km/s.
Os registros dão conta da trajetória entre as altitudes de 112km e 92km, ao longo de 26,4km de distância. Aqui vale ressaltar que, pelo fato de que o meteoro já possui brilho perceptível pelas câmeras em tão grande altitude e o mesmo ter rapidamente sido consumido, suas características cometárias são reforçadas.
A resistência mecânica do material que compunha o meteoro também pôde ser calculada, apontando um valor de 0,096MPa. Mais uma vez, dentro do que era de esperar para detritos de cometas. Temos que, os materiais cometários possuem resistência mecânica menor que 1MPa. Já os detritos de asteroides tem resistência mecânica acima daquele limite.
Na imagem temos um grão de poeira cometária. É possível notar o aspecto poroso do material.
As camadas mais externas de muitos cometas possuem material agregado de forma muito deficiente. Isto é o que provoca o despendimento de blocos de “neve suja”, seja por efeitos de escape por conta da rotação do núcleo, por volatização ao sofrer aquecimento em suas aproximações do Sol ou por forças de maré, ao se aproximarem demais de objetos com bem mais gravidade.
O espectro mostra abundância de ferro e magnésio. Uma informação importante é que meteoritos carbonáceos são ricos em minerais silicatados ferrosos hidratados: filossilicatos. Na Terra a argila é um filossilicato.
É possível ver pouco cálcio. Fortes linhas de emissão do oxigênio atmosférico estão presentes. Com velocidade acima de 60km/s este meteoro também transmite energia para os próprios átomos de Oxigênio atmosférico, produzindo intensa emissão de luz.
Imagem do espectro de emissão do Fireball de 06/07/2017.
Um brilhante meteoro, representante de uma das chuvas descobertas pela BRAMON teve sua curta vida dissecada. Pudemos extrair importantes informações unindo diversas técnicas. Desde uma melhor percepção orbital até mesmo como o fenômeno da entrada de um meteoroide pode ser registrado e lido.
Foi possível também, criar os desenhos da trajetória do meteoro na perspectiva que mostra o acontecimento bem acima da cabeça de milhões de pessoas.
Vista mostrando o perfil da trajetória do meteoro.
Vista frontal da trajetória do meteoro.
Vista superior da trajetória do meteoro.
A BRAMON é uma das maiores redes de monitoramento de meteoros do mundo. Possui 97 estações de monitoramento, distribuídas em 19 estados brasileiros. Em três anos e meio de atuação, acumula dezenas de milhares de meteoros registrados e analisados, milhares de órbitas definidas, dezenas de milhares de meteoros registrados em suas estações de rádio monitoramento, centenas de TLEs registrados e catalogados, 25 radiantes de chuva de meteoros descobertas e listados na IAU. Somos um laboratório prático de Astronomia. Junte-se a nós!
Imagens: Carlos Di Pietro (BRAMON), Renato Poltronieri(BRAMON), RSPEC, Google Earth, Universe SandBox2, Internet.
Texto e Edição: Lauriston Trindade.