BRAMON e as primeiras órbitas determinadas no Ceará

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A BRAMON possui hoje quase 100 estações. Distribuídas em 19 estados brasileiros. No Ceará, a BRAMON iniciou suas atividades em 2015, com a Estação MPE1, em Maranguape. Ainda em 2015, fizemos um primeiro teste em escola pública, instalando uma estação na Escola Estadual de Ensino Profissional Salaberga Torquato Gomes de Matos. No final de 2016, o Observatório Otto de Alencar – UECE (Universidade Estadual do Ceará) iniciou seus trabalhos junto à BRAMON com a estação OTTO1. Em 2017, Eduardo Coelho (estação EDB1) e Hélder Silveira (estação SBF1) entraram em operação. As cinco estações estão dispostas num pequeno espaço territorial cearense, o que gera algumas dificuldades.

É possível perceber que as estações do ceará estão concentradas na porção nordeste do estado, juntas à capital, Fortaleza. E de fato assim estão. Somente duas estações estão fora de Fortaleza e, ainda assim, em cidade da Região Metropolitana. Quando detalhamos a imagem, como visto na Figura 2, percebemos que as estações se dispõem em linha. E que as distâncias máximas encontradas entre as mesmas situam-se por volta de 27 km.

Figura 1.  As estações associadas à BRAMON, no Ceará.

Figura 2. As estações se distribuem numa linha de apenas 27km de comprimento.

     Este adensamento gera dificuldades no que se refere à paralaxe para a determinação das reais trajetórias dos meteoros na atmosfera.

Mas o que é a paralaxe?

     Paralaxe é um termo de origem  grega e significa “alteração”. Se dois observadores estiverem suficientemente distantes um do outro e observarem o mesmo meteoro no céu, tal meteoro terá o campo de estrelas diferentes atrás dele. Assim, é possível fazer, a partir de cada projeção individual, a trajetória na atmosfera. Na BRAMON, quando duas ou mais câmeras registram o mesmo meteoros, dizemos que há possibilidade de pareamento se as estações envolvidas no registro estiverem em distância suficiente.

O pareamento entre as estações do Ceará

     É impossível realizar pareamento entre as estações de Fortaleza. Elas se encontram tão próximas entre si que quase não haverá alteração da passagem de um meteoro em relação ao campo de estrelas atrás do mesmo. O mesmo se dava entre as estações MPE1 e EEEP1. Mas, a partir deste mês de agosto, começamos a tentar efetuar a determinação de órbitas de meteoros a partir dos registros entre as estações de Fortaleza e Maranguape. Separadas no mínimo por 16,5km e no máximo por 27km. Não é fácil conseguir isso. O meteoro não pode estar muito distante das estações, senão há um achatamento dos ângulos registrados e a margem de erro pode aumentar muito.

Pareamentos em 07/08/2017 e 08/08/2017

     A BRAMON atualmente possui milhares de órbitas determinadas. Com tanta qualidade, que permitiram a descoberta de chuvas de meteoros. Existem estações que estão afinadas nos seus apontamentos de azimute e elevação de forma a otimizar muito os registros simultâneos e determinações de órbitas. Mas, para as estações do Ceará, ainda estamos no início deste processo de otimização.

Meteoro em 07/08/2017

     Este foi um meteoro surgido no extremo do campo de visão das câmeras das duas estações. Foi mais difícil de analisar e gerou um pouco mais de incerteza em sua trajetória. Isto porque, uma vez registrado mais distante, gerou menor efeito de paralaxe.

Figura 3. Visadas das duas estações em relação ao meteoro.

Figura 4. Desenho da órbita do meteoro. Observem a incerteza na órbita.

     Aqui, exponho um pareamento bem mais preciso, ocorrido entre a Estação OTTO1 e a estação MPE1. O meteoro surgiu às 22h31min02s (horário local). As figuras 5 e 6 mostram a aparência do registro a partir de cada estação:

Figura 5. Meteoro como visto pela estação MPE1. (Maranguape – Ceará)

Figura 6. Meteoro como visto pela estação OTTO1. (Fortaleza – Ceará)

     O passo seguinte foi analisar o meteoro e determinar os parâmetros de posicionamento do mesmo em relação a cada estação. O resultado foi o mapa visto na Figura 7.

Figura 7. Projeção da visão do meteoro a partir de cada estação.

     Pelo mapa de visada de cada estação é possível notar como é esforçada a paralaxe das duas. Também fica nítida a percepção de que quanto mais longe estiver o meteoro registrado, menor será o ângulo de visada entre elas.

     Mesmo assim, foi possível uma determinação acertada da órbita deste meteoro. A Figura 8 mostra a visão de topo e a partir do plano da órbita da Terra para nossas determinações.

Figura 8. Visão de topo a órbita do meteoro AOA (August omicron Aquariids).

Resumo da Ópera

     Percebemos, mesmo com limitações geométricas óbvias, trabalhar a obtenção de órbitas com estações distante apenas 18km. Não obteremos altos rendimentos de pareamentos, mas mesmo assim, é possível lançar as estações cearenses em outro nível de aquisição de dados, mesmo trabalhando entre elas próprias. Felizmente, em soma às estações do Ceará, temos a JPZ3 (Marcelo Zurita; João Pessoa – PB) que faz excelente parceria para obtenção de órbitas. Já existem pareamentos entre a estação JPZ3 e a estação SBF1.

     O ideal é termos mais estações no Ceará, que fiquem posicionadas bem para o interior do estado e possam gerar abrangência geométrica para novos pareamento e monitoramento. Tais estações, poderiam facilmente parear com outras na capital e mesmo nos estados vizinhos, onde temos um bom número de estações associadas à BRAMON.

     A BRAMON é uma das maiores redes de monitoramento de meteoros do mundo. Possui quase 100 estações em 19 estados brasileiros. Com 25 chuvas de meteoros descobertas, listadas pela IAU (União Astronômica Internacional), torna-se uma das redes mais atuantes neste segmento. Atua em todos os níveis do ensino formal. Possui ampla ação no ensino informal de Astronomia. É uma rede colaborativa.

Texto e edição Lauriston Trindade*

*Lauriston Trindade é integrante da BRAMON desde julho de 2015. Membro da IMO (International Meteor Organization). Co-descobridor de chuvas de meteoros.

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