A BRAMON, Rede Brasileira de Observação de Meteoros, descobriu uma chuva de meteoros associada ao Asteroide 2019 OK, o mais perigoso asteroide descoberto também por brasileiros. A descoberta, anunciada previamente em uma Live no Canal Astroneos, foi oficializada nesse 15 de setembro pela União Astronômica Internacional.
O Asteroide
Em julho do ano passado, houve um alvoroço na comunidade astronômica internacional, quando o SONEAR, um observatório amador no interior de Minas Gerais, descobriu um asteroide com cerca de 100 metros se aproximando perigosamente da Terra. Com seu equipamento secundário, um telescópio de 28 milímetros de diâmetro, o SONEAR foi o primeiro a detectar o asteroide na noite do dia 24 de julho de 2019, antes mesmo dos poderosos telescópios de 1 metro de diâmetro da NASA, nos Estados Unidos.
No dia seguinte, a circular MPEC 2019-O56, do Minor Planet Center, oficializou a descoberta, nomeando o asteroide como 2019 OK. Isso ocorreu apenas 3 horas antes dele passar “raspando” a Terra naquele dia. O 2019 OK tomou as páginas dos jornais no mundo inteiro e foi chamado pela imprensa especializada de “city-killer”, já que ele teria potencial destrutivo para arrasar uma cidade inteira. Naquele dia 25 de julho de 2019, ele passou a pouco mais de 70 mil quilômetros do nosso planeta, se tornando o maior asteroide que se tem conhecimento, a passar tão perto da Terra nos últimos 100 anos.
A órbita do 2019 OK indica que ele faz parte da Família de Flora, uma grande família de asteroides rochosos e possível origem de parte dos meteoritos condritos do tipo L, a segunda classe mais comum de meteoritos, representando 35% de todos os já classificados aqui na Terra. O asteroide leva um pouco mais de dois anos e meio para completar uma volta em torno do Sol, e a cada volta, passa a menos de 50 mil quilômetros da órbita terrestre. Isso o torna um Objeto Potencialmente Perigoso (PHA), que merece ser rastreado sistematicamente para evitar surpresas, caso ele sofra algum desvio que possa o colocar em rota de colisão com a Terra.
A Descoberta
Ao perceber um asteroide tão grande passando tão próximo, e ainda com uma órbita comum à de meteoritos que eventualmente atingem à Terra, os pesquisadores Lauriston Trindade e Alfredo Dal’Ava resolveram buscar na base de dados da BRAMON, por meteoros que pudessem estar associados ao 2019 OK.
A busca por uma nova chuva de meteoros normalmente é feita a partir do isolamento de um conjunto de meteoros com órbitas semelhantes. A órbita de um meteoro é calculada a partir da análise das imagens de um mesmo meteoro registrado em pelo menos duas câmeras distintas. A triangulação das imagens permite o cálculo preciso da trajetória do meteoro pela atmosfera e, retroagindo-se a trajetória do meteoro, pode-se calcular a órbita que o meteoroide possuía antes de atingir a Terra.
Nesse caso, o processo foi um pouco diferente. A partir da órbita conhecida do asteroide foi feita uma busca simples por meteoros com órbitas semelhantes na base da BRAMON. Para isso, foram utilizadas ferramentas de software que a rede vem desenvolvendo desde 2017. Mas dessa vez, não foi tão simples.
Já na primeira busca, foram percebidos 58 meteoros com órbitas semelhantes à do 2019 OK. Mas, no meio deles, haviam muitos meteoros associados ao radiante tau Capricornids, proposto por Jenniskens em 2016. Isso poderia indicar que o 2019 OK seria o corpo parental dessa chuva de meteoros. Mas ao analisar manualmente os dados, Lauriston percebeu que a órbita do asteroide não se encaixava na tau Capricornids. Percebeu também uma diferença orbital significativa entre alguns meteoros associados à essa chuva. Suas órbitas se pareciam mais com a órbita do 2019 OK que com a da tau Capricornids, o que indicava que, na verdade, eles fariam parte de outra chuva de meteoros e essa sim, associada ao asteroide.
Para resolver o impasse os pesquisadores brasileiros precisaram voltar no tempo. Mas para isso não precisaram de nenhum De Lorean ou TARDIS. A máquina do tempo utilizada foi um software desenvolvido pelo Alfredo Dal’Ava, que retrocede o tempo analisando a evolução orbital dos objetos considerando as influências gravitacionais dos planetas, satélites e asteroides conhecidos.Através da análise da evolução orbital do 2019 OK e dos meteoros selecionados, percebeu-se uma clara distinção entre dois grupos de meteoros. Enquanto uma parte deles parecia não ter qualquer conexão com o asteroide, se afastando a medida que o tempo era retrocedido, um outro grupo de meteoros permanece em total sintonia com o 2019 OK há pelo menos 12 mil anos. Isso comprova cientificamente a descoberta de uma chuva de meteoros brasileira, gerada por um asteroide 100% nacional.
A Chuva de Meteoros
A nova chuva de meteoros recebeu o nome de 17 Capricornids e tem sua máxima em 24 de julho, mesma data da descoberta do 2019 OK. Neste dia 15 de setembro de 2020, ela foi acrescentada à Lista de Chuvas de Meteoros da União Astronômica Internacional com o número 01042 e o código SCP. No detalhamento da chuva, já é indicado seu corpo parental, o Asteroide 2019 OK, descoberto pelo Observatório SONEAR.
Trata-se de uma chuva de baixa intensidade e seu radiante é próximo à estrela 17 Cap da Constelação de Capricórnio. Muito próximo, inclusive, da posição onde o Asteroide 2019 OK foi observado pela primeira vez em 24 de julho de 2019.
Perspectivas Futuras
Futuras observações do asteroide e dos meteoros podem ajudar a entender como se formou a nuvem de detritos que causa a chuva. Pode ser que o 2019 OK seja, na verdade um cometa extinto, ou seja, que já perdeu toda sua massa volátil, mas que deixou uma nuvem de detritos em sua órbita. Outras possibilidades é que a nuvem tenha se formado a partir de uma ejeção espontânea de detritos, como a que parece estar ocorrendo em Bennu, por uma ejeção gerada por um impacto ou talvez, por ação da gravidade terrestre após passagens muito próximas, como a que ocorreu em 2019.
O fato é que esse asteroide que já deu muito o que falar, parece que ainda vai render muitos estudos e, quem sabe, algumas boas surpresas como essa.