Nove Toneladas! Bólido do RS deixou meteoritos em solo

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Um pequeno asteroide com cerca de 1,74 metros e 9,4 toneladas atingiu o Rio Grande do Sul na madrugada de 1° de outubro de 2020, gerando o superbólido que transformou a noite em dia por alguns instantes. Essa é a conclusão da BRAMON, a Rede Brasileira de Observação de Meteoros que investigou o caso. Os estudos indicam também que este evento deixou meteoritos em solo próximo à Vacaria, no Rio Grande do Sul.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores da rede analisaram as imagens das câmeras da BRAMON e do Clima ao Vivo, que registraram o bólido naquela madrugada.

Trajetória

A partir da triangulação dos vídeos registrados em cidades do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a BRAMON conclui que o bólido teve uma trajetória predominantemente de Sul-Sudeste para Norte-Noroeste. Às 01:09 (horário local) da madrugada de quinta-feira, 1° de outubro, a rocha espacial atingiu a atmosfera da Terra em um ângulo de 40,5° em relação ao solo, e numa velocidade de 59,6 mil km/h. Iniciou sua fase brilhante a 75,3 km de altitude a leste de Caxias do Sul. Ele seguiu brilhando intensamente por 6,2 segundos, superando em boa parte da trajetória a luminosidade da Lua Cheia e atingindo a magnitude de -17.2, um brilho 40 vezes maior que a Lua Cheia, até se extinguir a 17,3 km de altitude, a oeste de Vacaria.

Trajetória do superbólido pela atmosfera - Créditos: BRAMON

Trajetória do superbólido pela atmosfera – Créditos: BRAMON

Brilho energia e massa

Como viajam a uma velocidade muito elevada no espaço, asteroides e meteoroides possuem uma energia cinética muito elevada. Ao atingir a atmosfera da Terra, grande parte dessa energia é convertida em outras energias, incluindo o calor que vaporiza grande parte do objeto e a energia luminosa que o torna visível a distâncias enormes. Esse processo é chamado de ablação atmosférica.

Para os cálculos de massa, a BRAMON mediu o brilho e a velocidade do meteoro em cada quadro de vídeo. A partir desses valores, é possível estimar a energia cinética total e, conhecendo a energia e a velocidade do objeto, calcula-se sua massa aplicando-se a fórmula da energia cinética (E = m.v²/2).

Gráfico de Velocidade e Brilho em função do Tempo - Créditos: BRAMON

Gráfico de Velocidade e Brilho em função do Tempo – Créditos: BRAMON

A partir dessas medições, foi calculado que o bólido explodiu sobre o Rio Grande do Sul com uma energia equivalente a  220 toneladas de dinamite. Isso corresponde a um pequeno asteroide com cerca de 1,74 metros e 9,4 toneladas de massa. Algo do tamanho de um Fusca, mas bem mais pesado e mais rápido também!

Dessa massa, estima-se que entre 2% (188 kg) e 6% (564 kg), teria resistido ao processo de ablação e chegado ao solo no município de Vacaria.

Tamanho estimado do asteroide - Créditos: BRAMON

Tamanho estimado do asteroide – Créditos: BRAMON

Todos esses cálculos envolvem alguns valores estimados e variáveis que não podem ser medidas, sendo substituídas por valores padrões indicados na literatura científica. Isso significa que os resultados apresentados são uma aproximação da realidade podendo não representá-la com precisão.

Área de dispersão dos meteoritos

A partir da trajetória calculada pela BRAMON, o engenheiro americano Jim Goodall calculou a área de dispersão dos meteoritos.

Quando o objeto atinge as camadas mais baixas e densas da atmosfera, a resistência do ar é tão grande que o objeto explode, gerando um surto de brilho e uma intensa onda de choque, que é percebida como um forte barulho de explosão. Nesse momento, a rocha se parte em centenas, talvez milhares de fragmentos, sendo a maioria deles com alguns gramas de massa. Esses fragmentos viajam até o solo praticamente em velocidade constante em torno de 300 km/h e ficam sujeitos aos ventos que interferem bastante na trajetória, principalmente dos menores fragmentos.

Para calculo da área de dispersão, o software desenvolvido por Goodall, simula a trajetória de uma nuvem de fragmentos de diversos tamanhos e formatos, considerando tanto a trajetória do meteoro quanto os ventos presentes na região. O mapa abaixo, representa as regiões onde é possível encontrar os fragmentos dos meteoritos gerados por esse bólido.

Área de dispersão dos meteoritos - Créditos: Jim Goodall / BRAMON

Área de dispersão dos meteoritos – Créditos: Jim Goodall / BRAMON

A seta amarela representa o final da trajetória do meteoro, a área em azul marca onde há a possibilidade de se encontrar estes meteoritos. Essa possibilidade é maior na área em verde e na área amarela, é onde há a maior probabilidade. A área está em grande parte no município de Vacaria, mas se estende desde Campestre da Serra, mais ao Sul, até Muitos Capões, a noroeste. Os menores fragmentos são também mais numerosos e portanto, mais fáceis de encontrar. Eles devem ter se espalhado em grande parte da área de dispersão mais próxima a Vacaria e Campestre da Serra, enquanto os fragmentos maiores e menos numerosos, poderão ser encontrados mais próximo à Muitos Capões.

Como encontrar

Pessoas que moram nessas regiões ou em regiões próximas podem procurar por fragmentos desse meteorito. Para isso, é preciso saber como identificá-los e também o que fazer caso encontre um.

Para identificar um meteorito, é preciso estar atento a algumas características comuns:

  • Densidade: meteoritos são normalmente mais densos que rochas terrestres. Meteoritos rochosos devem parecer um pouco mais pesados que uma rocha comum, e os metálicos, muito mais pesados.
  • Crosta de fusão: a parte externa de um meteorito é escura e tem aspecto escuro e fosco devido ao intenso calor que ele esteve exposto durante sua passagem atmosférica.
  • Magnetismo: quase todos os meteoritos são atraídos por imãs, pois geralmente possuem ferro e níquel em sua composição.
  • Interior: a maioria dos meteoritos apresentam interior claro com cor semelhante ao cimento, sem bolhas e aparentando ser composto de pequenas esferas em diferentes tons de cinza. Nos meteoritos metálicos, seu interior tem aspecto semelhante ao aço inox.
  • Remaglitos: meteoritos podem possuir remaglitos que são depressões semelhantes a marcas de dedo.

O fluxograma abaixo é uma boa orientação para identificação de um possível meteorito. Ele não é decisivo, pois há casos de meteoritos que fogem completamente a estas regras, mas seu resultado dá uma boa pista das chances existentes:

Abaixo, algumas fotos de meteoritos para você se familiarizar com seu aspecto:

Se você pretende ir a campo buscar meteoritos, existem algumas dicas que são muito úteis:

  • Entre em contato com a BRAMON (bramonmeteor@gmail.com) para saber se há atualizações na área de dispersão e pegar as últimas dicas para as buscas.
  • Lembre-se que estamos vivendo uma pandemia então, evite aglomerações, informe as autoridades locais e siga todas as recomendações sanitárias do município.
  • Não entre em propriedade particular sem a autorização expressa do proprietário.
  • Leve um GPS ou um celular carregado com algum aplicativo de GPS.
  • Leve água. Para beber apenas.
  • Use protetor solar e evite longas exposições ao Sol
  • Prenda um imã forte na ponta de um cabo de vassoura. É um dispositivo muito útil e permite que você possa inspecionar o solo em busca de rochas que são atraídas pelo imã. Envolva o imã com um saco plástico para facilitar a retirada dos fragmentos que aderirem ao imã.

O que fazer caso encontre um meteorito?

Se você encontrou algo parecido com um meteorito, comemore muito! Mas esteja atento a alguns procedimentos que são muito importantes para resgate e reporte do achado:

  • Filme, fotografe e grave um relato informando data, hora e local onde foi encontrado o meteorito. Se possível, faça isso antes mesmo de retirar ele do solo.
  • Registre no GPS ou no aplicativo de GPS do celular as coordenadas de onde ele foi encontrado. Além de valorizar a peça, pode ajudar a refinar a área de busca de novos fragmentos. Se não tiver como fazer isso na hora, marque bem o local onde encontrou para poder fazer isso mais tarde, mas não deixe de fazer.
  • NÃO LAVE. Mantenha a peça longe de água. Limpe apenas com um pincel e guarde em um recipiente livre de umidade.
  • Depois de limpa, tire boas fotos de todos os lados da peça. Coloque-a próximo a uma régua, uma moeda ou algum objeto que permita dar uma ideia de escala.
  • Se possível, pese a peça em uma balança de precisão.
  • Envie-nos (bramonmeteor@gmail.com) fotos, vídeos e os dados registrados para que possamos analisar e confirmar se trata-se ou não de um meteorito. Manteremos seu nome e os dados em sigilo.
  • Caso tenha encontrado o meteorito em uma propriedade privada, informe o proprietário e se for o caso, acordem uma divisão justa dos valores conseguidos pelos meteoritos retirados de sua propriedade. A transparência e honestidade será a melhor forma de evitar transtornos.
  • Caso seja confirmado (ou seja uma boa suspeita), a peça ou um pedaço dela deve ser enviada para o Museu Nacional do Rio de Janeiro, para que ela seja analisada e, se for o caso, certificada pela Professora Elizabeth Zucolotto, maior autoridade brasileira em meteoritos.

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