O observatório SONEAR, sigla em inglês para Southern Observatory for Near Earth Asteroids Research, em português, Observatório Austral para Pesquisa de Asteroides Próximos à Terra está instalado em Oliveira-MG.
A ideia da construção do observatório surgiu em 2009 com objetivo de patrulhar o céu noturno. Um mapeamento de objetos que possam, eventualmente, estar em rota de colisão com a Terra. Então, a lente do telescópio foi encomendada ao Sandro Coletti, do Paraná. A localização do observatório acabou ficando em um terreno de João Ribeiro (professor e psicanalista), em Oliveira (150km de Belo Horizonte). Enquanto o astrônomo amador João Ribeiro construía a edificação, Cristóvão Jacques (engenheiro civil e Físico) adquiria os equipamentos. O observatório conta também com mais um astrônomo amador, Eduardo Pimentel (advogado). As observações iniciaram em dezembro de 2013.
Equipe do SONEAR (imagem de 2015).
Diferente de astrônomos profissionais, que investem tempo em formação acadêmica e são contratados de instituições de ensino e/ou pesquisa, os três astrônomos amadores financiam o próprio observatório e consideram que estudam o céu por amor à atividade.
Com um telescópio considerado modesto, se comparado aos equipamentos presentes em grandes centros de observação do céu, O SONEAR estreou muito bem, com menos de um mês de operação realizou uma descoberta inédita: astrônomos brasileiros natos, através de observações realizadas em solo brasileiro, tiveram a descoberta de um cometa validada e reconhecida internacionalmente. Era o C/2014 A4. Cristóvão Jacques ressalta que mesmo com um telescópio “modesto” a descoberta do cometa veio, principalmente, porque houve planejamento e, principalmente, houve observações. O objetivo primeiro do SONEAR é o monitoramento de asteroides potencialmente perigosos, foi um acaso a descoberta do A4 (SONEAR).
Esse primeiro cometa recebeu o nome de SONEAR por uma regra da União Astronômica Internacional. O objeto foi detectado na noite 11/12 de janeiro de 2014 e reportado ao MPC (Minor Planet Center) como um asteroide. Pouco tempo depois, um astrônomo italiano observou o mesmo objeto e detectou características cometárias. Neste caso, o cometa recebe o nome do observatório que o encontrou. Se tivesse havido o reporte inicial que era um cometa, aí sim, o objeto seria batizado com um dos sobrenomes: Jacques, Pimentel ou Ribeiro.
Telescópio que registrou o cometa C/2014 A4 (SONEAR).
O SONEAR veio para preencher uma lacuna observacional nos céus do hemisfério. Isso porque tais regiões são inacessíveis aos observatórios do hemisfério norte. Grosso modo, a busca se dá fotografando-se um mesmo setor do céu em intervalos pré-programados de tempo. Depois um software é capaz de comparar as imagens e “perceber” se houve movimento de algum objeto contra o fundo “fixo” das estrelas.
Sequência de imagens identificando um cometa (imagens SONEAR)
O telescópio utilizado na descoberta tem capacidade de captação de luz 373.000 vezes melhor que a visão humana. Isto equivale dizer que ele está preparado para ver objetos de até magnitude 20. São 450mm de diâmetro do espelho primário.
A astronomia amadora hoje possui condições de ter acesso a tecnologias refinadas, enquanto fica cada vez mais difícil empreender pesquisas em telescópios profissionais em grandes centros. Neste aspecto o SONEAR é um observatório amador mas com planejamento profissional. Todos as noites a programação de varredura do céu é passada, via internet, ao observatório. Uma vez que tudo pode ser controlado remotamente, não há necessidade de presença física dos astrônomos. Mas sempre ao surgir potenciais novos objetos tem que haver uma conferência mais acurada.
Hoje, três anos após a descoberta do primeiro cometa, o SONEAR conta com dois telescópios e seus registros o posicionam, pelo terceiro ano seguido (2014,2015 e 2016), como o observatório astronômico amador que mais descobriu NEOs e PHAs. São 4 cometas, 22 MBAs (main-belt asteroids), 25 NEOs (Near Earth Objects) e 2 Mars Crossers.
Pelos seus serviços à ciência, o SONEAR recebeu o prêmio Edgar Wilson, concedido pelo Smithsonian Astrophysical Observatory, importante observatório dos Estados Unidos.
Cometas descobertos pelo Observatório SONEAR.
Cometa C/2014 E2 (Jacques). Fotografia de Paulo Régis/CASF. Telescópio (Coruja I), modelo Schmidt-Newtonian, D= 254mm, F=1016mm, f/4 Captação das imagens: CCD Atik 314L+. Processamento software da ATIK (Dawn) Tempo de integração da fotos: 10 x 7s, Bin 2 Paramoti-Ce, 115km de Fortaleza, Ceará – Brasil.
O SONEAR e a BRAMON são parceiros tanto na pesquisa astronômica quanto no entendimento de que a produção amadora em Astronomia é fundamental para a divulgação da Ciência. São palestras, workshops, oficinas realizadas de forma independente ou compartilhada sempre buscando conduzir a um aprendizado e difusão de conhecimentos de forma responsável e acessível.
Para saber mais:
Hangout Spacetoday: Asteroide Vesta (participação SONEAR e BRAMON)
Registro das 3925 observações de NEOs pelo SONEAR
Página inicial do Minor Planet Center
Matéria sobre a descoberta do P/2015 Q2 (Pimentel)
Imagens: divulgação SONEAR. A imagem do Cometa C/2014 E2 é de Paulo Régis/CASF. Compilação e Edição: Lauriston Trindade